Rede Cerrado: articulação em defesa do Bioma, seus povos e comunidades tradicionais

Criada na década de 1990, Rede Cerrado atua na promoção da sustentabilidade, conservação do Bioma e garantia de direitos de povos e comunidades tradicionais que habitam a região; Rosa e Sertão é uma das entidades que compõem esta grande rede.
6 de dezembro de 2018 | Por: Rosa e Sertão

Não é novidade para ninguém que o Cerrado é um dos biomas brasileiros que mais vem sofrendo com o avanço indiscriminado das fronteiras agrícolas. Dados recentes do Ministério do Meio Ambiente mostram que 50% da vegetação nativa do Cerrado já foram desmatadas. Ou seja, metade do Cerrado não existe mais! Junto com o desmatamento vem o aumento da vulnerabilidade de povos originários, comunidades tradicionais e agricultores e agricultoras familiares que habitam o Bioma, que ocupa 24% do território brasileiro e concentra 5% de toda a biodiversidade do planeta. Isso porque esses povos têm no Cerrado uma forte relação de subsistência e sobrevivência, cultura e manutenção de seus modos de vida.

Foi durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Brasil em 1992, também conhecida como Eco-92 ou Rio 92, que surge a Rede Cerrado, a partir da assinatura do Tratado dos Cerrados. O documento definiu o compromisso entre seus signatários para enfrentar as ameaças que o Bioma já vinha enfrentando.

A Rede Cerrado é também representada por indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, vazanteiros(as), fundo e fecho de pasto, pescadores(as) artesanais, geraizeiros(as), extrativistas, veredeiros(as), caatingueros(as), apanhadores(as) de flores Sempre Viva e agricultores(as) familiares, que são os verdadeiros guardiões da biodiversidade do Cerrado. São elas e eles os principais responsáveis por manter o Bioma em pé, pois convivem em harmonia com o meio ambiente e são profundos conhecedores do patrimônio ecológico e cultural da região.

A diversidade de atores comprometidos e atuantes no campo político da Rede Cerrado possibilita, ainda, a atuação estratégica em diversos espaços públicos socioambientais para propor, monitorar e avaliar projetos, programas e políticas públicas que dizem respeito ao Cerrado e aos seus povos.

 

Mas por que toda essa articulação?

O Cerrado é um Bioma estratégico na manutenção do nosso ecossistema. Além de ser o responsável por fazer a ligação entre os demais biomas brasileiros e estar presente em 11 estados brasileiros – Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, São Paulo, Paraná, Rondônia, além do Distrito Federal -, a cobertura vegetal do Cerrado é fundamental para garantir os fluxos hídricos entre as regiões do Brasil. É ele que garante o transporte de umidade e vapor d’água da Bacia Amazônica para o Sul e o Sudeste do país, permitindo a regularidade do regime de chuvas. Se falta água em São Paulo, por exemplo, o problema pode estar intimamente relacionado com o desmatamento que vem ocorrendo no Cerrado.

Conhecido como o “berço das águas” ou a “caixa d’água do Brasil”, o Cerrado abriga oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras e abastece seis das oito grandes bacias hidrográficas do Brasil (Amazônica, Araguaia/Tocantins, Atlântico Norte/Nordeste, São Francisco, Atlântico Leste e Paraná/Paraguai). É nele onde estão localizados três dos principais aquíferos do país: Bambuí, Urucuia e Guarani.

A contribuição hídrica do Cerrado para a vazão da bacia do Paraná chega a 50%; à bacia do Tocantins chega a 62%; e a 94% da bacia do São Francisco. O bioma Pantanal é totalmente dependente da água do Cerrado e cerca de 50% da energia consumida no Brasil é gerada com as águas do Cerrado.

Estudos apontam que existem cerca de 10 mil espécies de plantas no Cerrado, das quais 44% são exclusivas do bioma, além de uma fauna riquíssima: com 250 espécies de mamíferos, 856 espécies de aves, 800 espécies de peixes, 262 espécies de répteis e 204 espécies de anfíbios.

Além de toda essa biodiversidade, no Cerrado vivem cerca de 25 milhões de pessoas, incluindo muitos povos e comunidades tradicionais. Garantir a vida e os direitos, principalmente territoriais, desses povos é garantir a manutenção dessa biodiversidade, dos ciclos hidrológicos e dos estoques de carbono. Isso porque os modos de vida desses povos são importantes aliados na conservação dos ecossistemas, pois formam paisagens produtivas que proporcionam a continuidade desses serviços ambientais prestados pelo Cerrado.

É por todo esse contexto que mais de 50 entidades, incluindo o Instituto Rosa e Sertão, atualmente, estão associadas à Rede Cerrado que, indiretamente, congrega mais de 300 organizações que se identificam com a causa socioambiental do Bioma. É na articulação em rede que a luta se torna mais forte.

 

Campanha Nacional em Defesa do Cerrado

A Rede também atua e faz parte da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, lançada por um conjunto de organizações em 2016, com objetivo de alertar a sociedade para os impactos que a destruição do Cerrado causa no Brasil. Com o mote ‘Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida’, uma petição está recolhendo assinaturas no Brasil e no exterior com o intuito de pressionar a aprovação de uma proposta para exigir que o Bioma vire Patrimônio Nacional. Mais de 245 mil pessoas já assinaram a petição.

Para saber mais sobre o Cerrado, seus povos e comunidades, bem como as ações que estão sendo desenvolvidas pela Rede Cerrado, acesse www.redecerrado.org.br.

 

Por Thays Puzzi, Assessora de Comunicação da Rede Cerrado

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