Em julho de 2009 a Secretaria Estadual de Cultura de Minas Gerais aprovou o Ponto de Cultura Seu Duchim: espaço geral de folias. O projeto obteve a primeira colocação no edital público e permitiu dar início, em 2010, a um espaço de articulação, criação e difusão das expressões culturais do Sertão Mineiro, de inigualável riqueza histórica. Dentre as atividades promovidas pelo espaço, está a realização de oficinas que exploram as linguagens diversas do repertório artístico e intelectual da região e que valorizam a sustentabilidade do patrimônio cultural do Grande Sertão. O Seu Duchim busca ainda consolidar um lugar de troca entre jovens e velhos, homens e mulheres, cidade e roça, pautado não em uma transmissão passiva, mas em um aprendizado crítico e criativo, onde diferentes perspectivas se mesclam.
Durante mais de quatro anos, o Seu Duchim articulou trabalhos junto à Rede Estadual de Pontos de Cultura e à Comissão Nacional de Ponto de Cultura e realizou atividades contínuas com crianças, adolescentes e adultos, tais como teatro, música e percussão, dança e audiovisual, além de promover intercâmbios e registros da memória viva. Como forma de materialização do processo criativo gerado pelos diferentes coletivos do Ponto, foi criado o núcleo de pesquisa e experimentação denominado Centro de Memória Viva, com o objetivo de garantir a transmissão desses conhecimentos a toda a população.
Em relação aos processos criativos fomentados pelo Seu Duchim, foram concebidos quatro espetáculos, resultado de experiências vivenciadas e do amadurecimento do trabalho com os meninos e meninas do Ponto de Cultura. Em 2011, foi desenvolvido o “Outras rosas em rosa”, que apresentou cantigas de domínio público, músicas do Grande Sertão: Veredas, orquestra de caixa e danças tradicionais-contemporâneas. Em 2012, foi a vez de “Cadê o manzuá”, espetáculo com danças de terreiro, batuques de folia e resistência negra, histórias de griôs e dançadeiras. Já em 2013, foi apresentado o “Giros de folia em noite de reis”, que trouxe o lado profano das folias, brincadeiras, atualização das músicas de domínio público, grupos de pífano e percussão.
Para dar continuidade ao trabalho que vinha sendo desenvolvido, sem financiamento externo, foi desenvolvido, em 2014, o “Folias e tambores do Velho Chico Opará”, com a proposta de trazer o rio São Francisco e suas manifestações culturais para dentro do Ponto de Cultura. Em 2015, reinventamos nosso projeto e formamos o grupo Diadorina. O grupo, com formação de base feminina, apresenta narrativas pautadas na cultura sertaneja e nos povos do Cerrado, em especial no que envolve o universo das festas de Reis .
Como resultado dos trabalhos, o Seu Duchim foi contemplado, em 2016, com o Programa Pontos de Memória, parceria do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e o Programa Mais Cultura e Cultura Viva, o que possibilitou alinhavar toda a trajetória e propor o Museu da Palavra do Cerrado. O Museu da Palavra do Cerrado tem como proposta organizar e registrar o processo de pesquisa e encontro com os mestres rabequeiros, foliões, de viola, causos, mulheres de reza, de benzadeus e de festa. A partir daí, reverberar nas ondas do rádio, instrumento muito ouvido na região, e impulsionar as histórias para que voem com as palavras e as modas de viola.